segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Por mais 24 horas de sobriedade

Conheça um pouco do trabalho do Alcoólicos Anônimos em Barroso e entenda a importância da atuação destes grupos dentro da sociedade


Há quem encare a bebida como necessidade, prazer, refúgio, vício ou doença. De qualquer forma, se ingerida em excesso, traz danos incalculáveis a quem a consome, aos seus familiares, amigos e à sociedade. Dados do Governo Federal apontam que a dependência de álcool no Brasil atinge cerca de 12% dos adultos brasileiros, sendo a droga mais popular e mais consumida no país, respondendo por 90% das mortes associadas ao uso de entorpecentes, as chamadas substâncias psicoativas.

Trabalhos voluntariosos e de auto-ajuda procuram combater de forma efetiva esse problema social. Um deles, provavelmente o mais conhecido, é o Grupo Alcoólicos Anônimos (A.A.), sociedade sem fins lucrativos criada pelos norte-americanos Bill W. e Dr. Bob e que existe desde o ano de 1935, sendo formada por homens e mulheres que se descobriram incapazes de enfrentar o álcool, admitindo sua fraqueza e procurando a ajuda mútua. A organização possui grupos locais em milhares de lugares em todo o mundo, compondo uma espécie de irmandade global, com membros em mais de 180 países, segundo informações do próprio A.A..

Em Barroso, cidade localizada na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, atualmente são dois os grupos de A.A. em atividade: Avante e Renascer. Com o propósito de manter a sobriedade, sobretudo por mais 24 horas, um dia de cada vez, além de prestar solidariedade e apoio fraterno aos que procuram por ajuda, os grupos se reúnem diariamente, com exceção das terças-feiras e domingos, sempre no mesmo local. “O grupo Renascer se encontra às segundas, quartas e sextas e o pessoal do Grupo Avante nas quintas e sábados”, declara o senhor X.X., um dos membros do A.A. na cidade, que aqui teve seu nome ocultado, assim como todos os demais que serão citados nesta reportagem, para assegurar um dos propósitos do grupo, que é a garantia do anonimato de seus integrantes.

As reuniões são bastante participativas, com depoimentos dos membros, chamados de “partilhas”, relatando suas dificuldades, os problemas enfrentados, traumas nas famílias, as perdas que a bebida proporcionou a cada um deles, tanto sentimentais quanto materiais. “Eu não tinha diálogo em casa. Saía cedo, ia para os bares, enchia a cara e só voltava à noite, só pra brigar com minha família”, declarou o jovem Y.Y., rapaz bem aparentado, perto dos seus 30 anos de idade, robusto e de barba feita. “Eu não tinha dignidade. Não cuidava de mim, da minha saúde, não ligava pra nada. Só queria beber e gritar pela casa. Mas fui salvo graças ao que encontrei aqui no A.A.”, comenta ele, celebrando a alegria de chegar ao grupo e ser acolhido sem nenhum preconceito ou discriminação.

Igualdade. No Alcoólicos Anônimos, todos são iguais, pois todos tem a mesma doença: a fraqueza diante do álcool. “Aqui nesta cabeceira de mesa já tivemos engenheiros, médicos, garis, advogados, pedreiros e desempregados. E todos foram tratados de maneira igual. Ninguém aqui teve mais privilégio por conta de sua condição financeira ou social”, garante o senhor Z.Z., integrante que estava na mesa coordenadora da reunião.

E, quando se fala em dinheiro, a filosofia do A.A. é direta. Uma de suas doze tradições, a sétima, enfatiza que “todos os grupos de A.A. deverão ser absolutamente auto-suficientes, rejeitando quaisquer doações externas”. Segundo a organização, muitos de seus membros sempre dependeram de ajuda e, por isso, parte de sua recuperação pessoal está em fazer deles mesmos pessoas mais responsáveis. Assim, o grupo depende das doações dos próprios membros ou de visitantes, mas que não são obrigatórias. A renda é destinada a custeios diversos, aluguel da sede (que não pode ser cedida por nenhuma pessoa ou instituição) e doação ao escritório central do A.A., que destina os donativos para o combate ao alcoolismo.

Em Barroso, o A.A. está em atividade desde a primeira metade da década de 1970, e é responsável pelo resgate de muitas vidas, devolvendo a dignidade a muitos homens e mulheres e restaurando as famílias e a comunidade. A pessoa que passa por problemas com o álcool, ou ainda que possua um parente ou conhecido nessa situação, pode procurar pelos grupos Avante ou Renascer, que se encontram semanalmente, às 19 horas, em cima do Salão dos Vicentinos, no bairro Dr. José Guimarães. O anonimato dos membros é assegurado e a organização está de portas abertas para oferecer apoio e incentivo àqueles que queiram se livrar dos problemas com o álcool por mais 24 horas, um dia de cada vez.

RhNeto

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