quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Perfil: Zé Geraldo

Um bate-papo informal e agradável com José Geraldo de Souza, um dos pioneiros na área de jornalismo em Barroso. Com problemas de saúde, Zé Geraldo ainda arrumou um tempo do seu dia para falar comigo.



Manhã de domingo de (quase) inverno em Barroso, por volta das 10 horas, e lá estou eu em frente à casa da personalidade com quem combinei a entrevista dias antes, e que logo que percebeu que era eu já foi falando com voz calma e cansada: “Não... Hoje não estou bem disposto para conversar. A gente podia marcar outro dia...”. Não pedi abertamente que tivéssemos naquele momento a nossa conversa, mas não resisti em ficar ali com ele mais um pouco. Zé Geraldo estava sentado em uma cadeira na entrada de sua casa, tomando um banho de sol, e eu fiquei do lado de fora do portãozinho de madeira. Disse que entendia a situação dele – afinal as sessões de hemodiálise e limitações de saúde deixam mesmo qualquer ser humano esgotado – e que voltaria em um outro momento. Mas ele foi falando, eu fui “puxando a sua língua” e o papo rendeu por mais de uma hora.

E na conversa falamos de tudo: política, cidade, música, imprensa, religião, educação, cultura e literatura. E como é bom conversar com quem tem bagagem para oferecer! E na hora pensei: “Ah, se mais pessoas pudessem ter essa aula de história...”. Zé Geraldo falou da família, do importante apoio que tem da esposa, da sua iniciação como homem das comunicações e de seus trabalhos. E foi uma honra poder conversar um pouco com um dos precursores da imprensa em Barroso.

Com a debilitação da enfermidade e problemas de visão, Zé Geraldo confidenciou-me diversas situações ocorridas nas suas experiências profissionais e também entre os acordes da Banda de Música de Barroso, da qual fez parte como músico e foi um de seus incentivadores. Falamos também da banda Lordes, um grupo de músicos barrosenses que ele teve o prazer de ajudar. E foi em uma das lembranças desse grupo que ele se emocionou, contando que recentemente esteve em uma festa que tocou uma das músicas do repertório da banda, que o fez voltar àquele já distante passado.

Perguntei a ele, que é formado em Ciências Contábeis, sobre o que o fez tomar gosto pela imprensa: “Quando garoto, eu vivia roubando os jornais do meu pai para ler. Eu me tornei um aficionado por leitura e informação. Eu era um autodidata. Em Campinas, existia o professor e comunicador Mário Erbolato, de quem fiquei amigo quando comprei um exemplar didático. A partir de então me tornei um bom comunicador, através da leitura desses materiais que trocávamos – eu mandava jornal para ele e ele para mim”. Zé Geraldo trabalhou em diversas instituições e desenvolveu importantes trabalhos no setor de imprensa de Barroso, como na Prefeitura, Fábrica de Cimento, Câmara de Vereadores e Associação Comercial.

Falando sobre o futuro de Barroso, Zé Geraldo foi direto: “Barroso precisa investir no cidadão, na sua educação e formação (...). Falta planejamento”. Para ele, não adiantam as obras e festas se não há a qualificação adequada para o povo. E disse ainda que muita coisa em Barroso, ao longo dos anos, acabou não indo adiante por ignorância de uns ou outros, que não enxergavam no trabalho já realizado uma boa oportunidade de continuar um belo projeto.

No dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida e das Crianças, Zé Geraldo vai comemorar seus 68 anos de idade. “Sabe esses foguetes que eles soltam no dia 12? São por causa do meu aniversário. São para mim!”, disse ele, apontando o dedo indicador para o céu. Falei que não duvidava dele, afinal um grande homem merecia uma festa como essa. No meio da nossa conversa, pude perceber o quanto Zé Geraldo é querido pelas pessoas. Muitos passavam e o cumprimentavam. Alguns até paravam para conversar. Mais velhos ou mais novos, todos tem um afeto pelo homem. E eu, de maneira especial, reservo um carinho especial por ele, que é eleitor na seção eleitoral da qual sou presidente e que, certa feita, ainda na minha adolescência, me disse para me empenhar na leitura de livros e jornais, os mesmos que fomentaram nele o gosto pela cultura e pelas coisas boas da vida.

Uma curiosidade é que nesse meio tempo da conversa, passou por nós sua esposa, que iria ao mercado fazer as compras para o almoço. No retorno, ele perguntou se ela havia encontrado mexerica. E ela falou que não tinha e ele lamentou. Claro que ao fim da entrevista saí entusiasmado e procurei pelas mexericas nos mercadinhos da cidade. Voltei à sua casa e deixei uma sacola cheia delas. Torci que estivessem tão doces quanto foram aqueles momentos de boa conversa que tive com ele.

RhNeto

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