Já disse certa vez, com grande propriedade e inteligência, o
físico alemão Albert Einstein: “O único
lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”. E com o
empresário Ercílio Aparecido dos Santos
não poderia ser diferente.
Em Barroso são muitos e tradicionais os comerciantes que
estão “na praça” há muitos anos. Mas por essa figura singular, o nosso querido Sr.
Ercílio, reservo um carinho todo especial. E é por isso que escolhi para um
bate-papo rico em história e superação esse empreendedor que completa 70 anos
em novembro de 2011, devoto fervoroso de Nossa Senhora Aparecida, e que tem
muita experiência para transmitir aos mais jovens.
E pra começo de conversa, e já seguindo o pensamento de
Einstein, Sr. Ercílio começou a vida de trabalho muito cedo. É o caçula de uma
família de cinco irmãos, originada do povoado de Padre Brito, de onde veio para
Barroso, com os pais, irmãos e apenas um ano de idade, trazendo mala e cuia e
todas as dificuldades de uma vida de poucos recursos e oportunidades. Começou a
trabalhar na cerâmica de Barroso, dos 13 para os 14 anos, onde o pai e o irmão
já eram empregados. “Eu não tinha nem
idade pra trabalhar lá. Pra entrar lá eles exigiam, no mínimo, 14 anos. Eu
tinha 13 e tive que aumentar a minha idade pra trabalhar e ajudar meus pais”,
revela ele, que declarou, ainda, que o serviço era muito pesado, munido de uma
padiola, espécie de prancha para carregar as telhas que saíam da prensa, com 12
telhas por minuto, sendo que a padiola só carregava oito peças. “Eu tinha que fazer o trajeto em menos de
um minuto. Havia vezes que a gente dava câimbras nos dedos”, relembra Sr.
Ercílio.
O então ajudante da cerâmica casou-se, aos 19 anos, e
constituiu família, em tempos difíceis, de muitas epidemias e poucos recursos
médicos na cidade. Ainda assim, os filhos começaram a chegar, a partir do
primeiro ano de casamento. Dispensado da cerâmica, com a promessa e expectativa
de um emprego na promissora empresa cimenteira de Barroso, Sr. Ercílio recebeu
a recomendação de descansar por alguns 50 ou 60 dias para, então, ingressar na
companhia de cimento. No entanto, o emprego prometido não veio e o dinheiro da
indenização ia acabando. Assim veio a idéia do comércio.
Da cerâmica para as atividades comerciais. Saído da empresa
depois de 11 anos, o jovem Ercílio estava diante de um grande problema, sobre o
que fazer da vida. “Eu entrei pra lá (cerâmica) com 13 anos. Não aprendi a fazer mais
nada. Na época o estudo era apenas até a 4ª série e, para se estudar mais,
tinha que sair pra fora”. Aí veio a idéia de pegar as poucas sobras da
indenização e abrir um pequeno botequim, na mesma rua onde está hoje seu
supermercado. Com o incentivo da mãe, Ercílio abriu o pequeno empreendimento,
mas que vendia muito pouco. “Eu ficava
ali o dia inteiro à toa. Dificilmente vendia um cigarro no varejo, um pãozinho.
As pessoas só queriam fiado e eu não podia vender, pois não tinha capital de
giro”, ressaltou. No entanto, tempos depois, uma oportunidade surgiu: um
armazém que funcionava no mesmo lugar onde hoje funciona a empresa da família.
O proprietário do comércio, Sebastião Camilo, estava aborrecido com as dívidas
da freguesia e tinha muitas contas para quitar. Assim, Camilo passou em um
concurso em Barbacena e ofereceu o comércio para Sr. Ercílio. “Ele me passou o livro dos devedores e me
disse que, se eu recebesse, ótimo. E caso não recebesse, já saberia quem não
era bom pra pagar. Aí eu só vendia se eu quisesse”, frisou. Foi então que
as coisas começaram a melhorar um pouco para ele e a família.
O tempo passou e o comércio foi se fortificando. O cômodo do
armazém foi adquirido, através da troca de uma casa no bairro Jardim
Bandeirantes e mais uma quantia em dinheiro emprestada junto ao banco Irmãos
Guimarães, na própria cidade. O sofrimento foi grande, pois a família morava
nos fundos do negócio. “Foi muito
difícil, mas graças a Deus eu consegui”, comentou ele. Sr. Ercílio lembra
das dificuldades com os produtos ensacados e perecíveis, pois trabalhava
praticamente sozinho e tinha que se virar para repor os caixotes e prateleiras
e atender à clientela, que só aumentava. Aí entrou a figura do primeiro filho,
Valdir, que o ajudou bastante. “A minha
consciência é pesada porque eu o prejudiquei”, relatou Sr. Ercílio,
referindo-se ao filho, que levava os estudos a sério na escola e, no entanto,
deixava de se empenhar mais nos livros para ajudar no comércio. O empresário
confessa que tem uma dívida com o filho: “Eu
devo muita obrigação a ele. Todos os filhos merecem o apoio da gente, pois eles
chegaram junto e ajudaram demais. Mas o Valdir não teve infância. A minha
consciência é pesada por isso”, declarou, emocionado.
Mas o Sr. Ercílio realmente trabalhou muito. Abria o
comércio muito cedo, perto das seis horas da manhã, e só fechava tarde da
noite. Na época, ele buscava os pães na padaria, pois as entregas atrasavam, e
ele gostava de atender às pessoas que iam para a escola e para o trabalho. Além
disso, de portas fechadas, repunha as prateleiras, organizava os produtos e debruçava-se
sobre a contabilidade dos negócios para ter o controle de tudo, sempre de
maneira correta. “Quantas e quantas
vezes minha esposa saía de casa e ia me buscar no armazém, às 4 ou 5 horas da
manhã, e me encontrava dormindo sobre a papelada”. Para vencer é realmente
difícil, mas ele venceu.
Pai de sete filhos, dos quais quatro homens (que trabalham
todos no supermercado da família) e três mulheres, sendo uma da prole adotiva,
hoje Sr. Ercílio declara que tudo valeu a pena. Afastado das atividades
comerciais por motivo de saúde, ele se diz realizado, pois acha que, quando a
pessoa se prepara, tem mais facilidade em conseguir êxito nos empreendimentos.
No entanto, sem dinheiro e sem estudo, ele seguiu firme, cresceu e venceu. “Na minha época, tanta gente com condição
financeira, apoio da família e estudo tinha comércio e quebrou. E eu, graças a
Deus, consegui. Eu me considero um vencedor”, disse ele.
O Sr. Ercílio é um empresário de muita experiência. Membro
de praticamente todas as diretorias da Associação Comercial de Barroso, sócio-fundador
da entidade, é sempre um grande e requisitado conselheiro de qualquer diretoria
que esteja à frente da ACIB. Muitos dos excelentes projetos e trabalhos da
associação possuem um porquinho dele. Junto do ex-presidente Savinho, foi o
idealizador do tradicional Papai Noel da ACIB. Eu, que trabalhei na entidade
por algum tempo, me lembro de seus conselhos, dados enquanto desenrolava o fio
do telefone ao lado da minha mesa. Sei da importância dele lá dentro. É um
referencial de sabedoria e experiência para todos.
Durante a entrevista, o velho comerciante ainda declarou: “Eu não sei pescar, eu não sei jogar
baralho. Eu não sei jogar sinuca. Tenho dois carros e não sei dirigir. Eu vivi
para trabalhar”. Pela sua história, temos certeza de que ele não viveu
apenas para trabalhar. Também com Einstein podemos traçar a vida do nosso
estimado senhor Ercílio: “No meio da
dificuldade encontra-se a oportunidade”. Com todos os obstáculos, ele
lutou, buscou os azos e prosperou. Assim, viveu também para servir de modelo de
sucesso e empreendedorismo para todos os empresários e jovens da cidade. Eu que
o diga!
RhNeto
Sr Ercílio é lenda viva! Homenagem mais que merecida.. Ser humano fantástico!
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