quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Perfil Sr. Ercílio





Já disse certa vez, com grande propriedade e inteligência, o físico alemão Albert Einstein: “O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”. E com o empresário Ercílio Aparecido dos Santos não poderia ser diferente.


Em Barroso são muitos e tradicionais os comerciantes que estão “na praça” há muitos anos. Mas por essa figura singular, o nosso querido Sr. Ercílio, reservo um carinho todo especial. E é por isso que escolhi para um bate-papo rico em história e superação esse empreendedor que completa 70 anos em novembro de 2011, devoto fervoroso de Nossa Senhora Aparecida, e que tem muita experiência para transmitir aos mais jovens.

E pra começo de conversa, e já seguindo o pensamento de Einstein, Sr. Ercílio começou a vida de trabalho muito cedo. É o caçula de uma família de cinco irmãos, originada do povoado de Padre Brito, de onde veio para Barroso, com os pais, irmãos e apenas um ano de idade, trazendo mala e cuia e todas as dificuldades de uma vida de poucos recursos e oportunidades. Começou a trabalhar na cerâmica de Barroso, dos 13 para os 14 anos, onde o pai e o irmão já eram empregados. “Eu não tinha nem idade pra trabalhar lá. Pra entrar lá eles exigiam, no mínimo, 14 anos. Eu tinha 13 e tive que aumentar a minha idade pra trabalhar e ajudar meus pais”, revela ele, que declarou, ainda, que o serviço era muito pesado, munido de uma padiola, espécie de prancha para carregar as telhas que saíam da prensa, com 12 telhas por minuto, sendo que a padiola só carregava oito peças. “Eu tinha que fazer o trajeto em menos de um minuto. Havia vezes que a gente dava câimbras nos dedos”, relembra Sr. Ercílio.

O então ajudante da cerâmica casou-se, aos 19 anos, e constituiu família, em tempos difíceis, de muitas epidemias e poucos recursos médicos na cidade. Ainda assim, os filhos começaram a chegar, a partir do primeiro ano de casamento. Dispensado da cerâmica, com a promessa e expectativa de um emprego na promissora empresa cimenteira de Barroso, Sr. Ercílio recebeu a recomendação de descansar por alguns 50 ou 60 dias para, então, ingressar na companhia de cimento. No entanto, o emprego prometido não veio e o dinheiro da indenização ia acabando. Assim veio a idéia do comércio.

Da cerâmica para as atividades comerciais. Saído da empresa depois de 11 anos, o jovem Ercílio estava diante de um grande problema, sobre o que fazer da vida. “Eu entrei pra lá (cerâmica) com 13 anos. Não aprendi a fazer mais nada. Na época o estudo era apenas até a 4ª série e, para se estudar mais, tinha que sair pra fora”. Aí veio a idéia de pegar as poucas sobras da indenização e abrir um pequeno botequim, na mesma rua onde está hoje seu supermercado. Com o incentivo da mãe, Ercílio abriu o pequeno empreendimento, mas que vendia muito pouco. “Eu ficava ali o dia inteiro à toa. Dificilmente vendia um cigarro no varejo, um pãozinho. As pessoas só queriam fiado e eu não podia vender, pois não tinha capital de giro”, ressaltou. No entanto, tempos depois, uma oportunidade surgiu: um armazém que funcionava no mesmo lugar onde hoje funciona a empresa da família. O proprietário do comércio, Sebastião Camilo, estava aborrecido com as dívidas da freguesia e tinha muitas contas para quitar. Assim, Camilo passou em um concurso em Barbacena e ofereceu o comércio para Sr. Ercílio. “Ele me passou o livro dos devedores e me disse que, se eu recebesse, ótimo. E caso não recebesse, já saberia quem não era bom pra pagar. Aí eu só vendia se eu quisesse”, frisou. Foi então que as coisas começaram a melhorar um pouco para ele e a família.

O tempo passou e o comércio foi se fortificando. O cômodo do armazém foi adquirido, através da troca de uma casa no bairro Jardim Bandeirantes e mais uma quantia em dinheiro emprestada junto ao banco Irmãos Guimarães, na própria cidade. O sofrimento foi grande, pois a família morava nos fundos do negócio. “Foi muito difícil, mas graças a Deus eu consegui”, comentou ele. Sr. Ercílio lembra das dificuldades com os produtos ensacados e perecíveis, pois trabalhava praticamente sozinho e tinha que se virar para repor os caixotes e prateleiras e atender à clientela, que só aumentava. Aí entrou a figura do primeiro filho, Valdir, que o ajudou bastante. “A minha consciência é pesada porque eu o prejudiquei”, relatou Sr. Ercílio, referindo-se ao filho, que levava os estudos a sério na escola e, no entanto, deixava de se empenhar mais nos livros para ajudar no comércio. O empresário confessa que tem uma dívida com o filho: “Eu devo muita obrigação a ele. Todos os filhos merecem o apoio da gente, pois eles chegaram junto e ajudaram demais. Mas o Valdir não teve infância. A minha consciência é pesada por isso”, declarou, emocionado.

Mas o Sr. Ercílio realmente trabalhou muito. Abria o comércio muito cedo, perto das seis horas da manhã, e só fechava tarde da noite. Na época, ele buscava os pães na padaria, pois as entregas atrasavam, e ele gostava de atender às pessoas que iam para a escola e para o trabalho. Além disso, de portas fechadas, repunha as prateleiras, organizava os produtos e debruçava-se sobre a contabilidade dos negócios para ter o controle de tudo, sempre de maneira correta. “Quantas e quantas vezes minha esposa saía de casa e ia me buscar no armazém, às 4 ou 5 horas da manhã, e me encontrava dormindo sobre a papelada”. Para vencer é realmente difícil, mas ele venceu.

Pai de sete filhos, dos quais quatro homens (que trabalham todos no supermercado da família) e três mulheres, sendo uma da prole adotiva, hoje Sr. Ercílio declara que tudo valeu a pena. Afastado das atividades comerciais por motivo de saúde, ele se diz realizado, pois acha que, quando a pessoa se prepara, tem mais facilidade em conseguir êxito nos empreendimentos. No entanto, sem dinheiro e sem estudo, ele seguiu firme, cresceu e venceu. “Na minha época, tanta gente com condição financeira, apoio da família e estudo tinha comércio e quebrou. E eu, graças a Deus, consegui. Eu me considero um vencedor”, disse ele.

O Sr. Ercílio é um empresário de muita experiência. Membro de praticamente todas as diretorias da Associação Comercial de Barroso, sócio-fundador da entidade, é sempre um grande e requisitado conselheiro de qualquer diretoria que esteja à frente da ACIB. Muitos dos excelentes projetos e trabalhos da associação possuem um porquinho dele. Junto do ex-presidente Savinho, foi o idealizador do tradicional Papai Noel da ACIB. Eu, que trabalhei na entidade por algum tempo, me lembro de seus conselhos, dados enquanto desenrolava o fio do telefone ao lado da minha mesa. Sei da importância dele lá dentro. É um referencial de sabedoria e experiência para todos.

Durante a entrevista, o velho comerciante ainda declarou: “Eu não sei pescar, eu não sei jogar baralho. Eu não sei jogar sinuca. Tenho dois carros e não sei dirigir. Eu vivi para trabalhar”. Pela sua história, temos certeza de que ele não viveu apenas para trabalhar. Também com Einstein podemos traçar a vida do nosso estimado senhor Ercílio: “No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade”. Com todos os obstáculos, ele lutou, buscou os azos e prosperou. Assim, viveu também para servir de modelo de sucesso e empreendedorismo para todos os empresários e jovens da cidade. Eu que o diga!

RhNeto

Um comentário:

  1. Sr Ercílio é lenda viva! Homenagem mais que merecida.. Ser humano fantástico!

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