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Aldeia dos Fulni-ô |
Sempre comento com meus amigos que gosto de passar por experiências para, depois, ter uma história pra contar. Neste mês de abril de 2016, em férias pelo Estado de Pernambuco, na casa da minha irmã, tive a oportunidade de visitar uma comunidade indígena, em pleno agreste, na cidade de Águas Belas, com cerca de 50 mil moradores e uma população de aproximadamente cinco mil índios.
A visita à comunidade foi para acompanhar meu cunhado, engenheiro agrônomo, fitopatologista e professor na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Um dos descendentes da tribo o procurou, pedindo ajuda por conta de um problema em uma árvore, um juazeiro, que existe dentro de uma área da tribo. A árvore, especificamente essa que fica dentro de uma vila da reserva indígena, é considerada sagrada, tem muitas fitas coloridas presas ao seu tronco e apresentava problemas na folhagem, o que vinha tirando o sono de toda a tribo.
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O famoso juazeiro, na divisa do muro que corta a tribo |
Aí começou a me interessar essa história. O rapaz que procurou pelo meu cunhado fez questão de levá-lo à sede da Funai, que funciona dentro da área da reserva, para falar a alguns dos moradores sobre a normalidade da situação. Alguns índios destacaram que não vinham nem dormindo por conta da preocupação com a árvore. Já na cidade, outros indígenas também foram informados e se mostraram aliviados com o laudo final do especialista.
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O dialeto Ia-Tê |
Na vila onde a "árvore sagrada" se encontra, uma tradição mantida ao longo de séculos. No lugar das ocas, casebres de alvenaria, colados uns nos outros. Lá, de setembro a dezembro, todos os cinco mil índios passam dias e noites, em um retiro, o Ouricuri, com seus rituais, suas tradições e suas culturas, sempre aos pés do imponente juazeiro. Homens de um lado, mulheres de outro. E um grande muro que divide a aldeia ao meio, interferido apenas pela grande árvore, que fica no centro de um terreirão. Durante o resto do ano, a vila fica deserta, inabitada, sem nenhuma porta ou janela aberta, sem uma viva alma nas ruelas de terra. Impossível não se prender a esse detalhe.
Fiquei o tempo todo pensando sobre como cresceriam aquelas crianças. Como aquela tradição do Ouricuri ajudaria e "atrapalharia" em suas vidas. O que ganhariam em preservar a tradição e o que perderiam ao ter que se adaptar a ela. "Não seja egoísta, Rhonan... É a cultura deles. Nem há motivo para se pensar nisso", explanei em pensamento. A vida é deles. A tribo é assim. É assim que eles vivem. Muitos são comerciantes no bairro à margem da cidade, que aliás foi construída em terras da aldeia, cedidas pelos índios à prefeitura, à igreja e outros mais. Quase todos são moradores da cidade, são urbanos. mas encontram no ritual do Ouricuri o refúgio para suas raízes, a fuga desse mundo louco que a gente vive.
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Uma pintura que representa a importância da árvore |
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Entrada da aldeia: recado dado |
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Fachada da escola bilíngue, dentro da comunidade |
Muito bom o texto, parabéns Rhonan Moreira Neto. Viajar e registrar esses momentos é algo muito bacana.
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