sexta-feira, 5 de abril de 2013

Gambá Lanches: 30 anos do melhor sanduba da cidade




Neste mês de abril de 2013, o famoso e badalado Gambá Lanches, em Barroso, comemora 30 anos... E a história do Gambá se confunde com a da cidade, com a da juventude, dos eventos, dos artistas, dos baladeiros, dos boêmios, dos apaixonados... O papo com Vicentina Fonseca, a Tina do Gambá, casada com o proprietário da lanchonete, Renato Gambá, rendeu muita coisa bacana. É hora de compartilhar com os leitores. Mas já adianto: muita coisa ficou para trás. Só conversando com ela pra saber os detalhes.


E a primeira pergunta é clássica: Como surgiu a ideia do Gambá? E me responde a Tina: “As pessoas sempre acham que o Gambá era do meu sogro, o saudoso Sr. Geraldo. Mas o Gambá sempre foi do Renato mesmo. E a ideia de criar o Gambá foi do meu cunhado, Ronaldo. O Renato e o pai dele estavam desempregados e o Sr. Geraldo veio junto com o Renato montar”, relembra ela, destacando que o Sr. Geraldo foi um incentivador fundamental dos negócios por 14 anos, participando de tudo que o casal queria fazer. “O Sr. Geraldo era muito carismático e conquistou muito as pessoas. Todo mundo gostava dele”, disse a entrevistada, comentando das intenções de fazer uma homenagem neste ano para o sogro.

Voltando ao início da lanchonete, não havia dinheiro pra investir no Gambá. Foram comprados um freezer, dois liquidificadores, um extrator de sucos e ainda foram emprestados cinco engradados de cerveja, dois de refrigerante e uma estufa, do amigo Nezito. “Mas a gente não acreditava muito no negócio, pois era uma novidade, não tinha lanchonete na cidade. Servíamos hamburguer, misto, x-burguer e x-salada, que era tudo o que a gente sabia fazer. Minha sogra fazia salgados de botequim, aqueles tira-gostos, além das coxinhas”, conta.

E Tina se lembrou da humildade da estrutura que o pequeno comércio barrosense possuía. “Não tinha onde sentar. O balcão ficava na porta. Era apenas aquele cubículo onde hoje ficam as quatro mesas, em frente ao banheiro. O Gilceu trouxe uns eucaliptos e meu sogro colocou umas tábuas em cima. Fizemos os banquinhos e as mesas com isso, além dos ‘gelos baianos’, os blocos que ficavam de fora do bar”, destaca. Mas o Gambá cresceu muito rápido e, em seis meses, precisava de ampliação. Então passaram a ocupar também a parte onde hoje ficam as mesas, e que, na época, haviam mesas de ardósia, bastante rústicas, além de algumas poucas mesas e cadeiras de metal.

A lanchonete ia ganhando fama na cidade de Barroso. Os negócios prosperavam e, com oito anos de funcionamento, o comércio pedia novos investimentos. Foi feita uma ampliação sem que as pessoas percebessem. Em uma noite, quebraram a parede e, quando as pessoas acordaram, de manhã, um novo Gambá estava em funcionamento, todo em sucupira, com um balcão enorme, cheio de doces, chocolates... Um caixa sofisticado, com mais produtos. Aos 14 anos de Gambá, um baque: o falecimento do Sr. Geraldo. Na época, a lanchonete servia almoço, com comida típica mineira. “Acabamos parando de servir almoço, pois ele nos incentivava muito”, lamenta a empresária.

Um ano depois, quando o Gambá fez 15 anos, a população se mobilizou e fez uma festa para a lanchonete. Uma festa surpresa. O bolo era um gambá e a vela também. “Fizeram até camisa pra gente. A população sempre retribuiu esse carinho pra gente. Nós nunca trabalhamos esperando receber nada em troca. O retorno vem quando a gente percebe que as pessoas estão felizes. Isso é importante”, destaca ela.

Tempos depois, a lanchonete, que continuava com as atividades, sofreu uma pressão muito grande para criar algo novo. “A gente sempre trazia novidades para a lanchonete e as pessoas cobravam da gente”, relata Tina. Então passaram a servir pizzas em maior quantidade e variedade. Com isso, a clientela aumentava e era preciso mais espaço. Foi então quando construíram o segundo andar do empreendimento, perto do ano de 2000.

Mas o negócio que cresce demanda mais atenção e cuidado. E Tina reconhece isso: “Não tínhamos muito controle da vida pessoal e dos negócios. Misturávamos muito as coisas. Aí em 2006 surgiu o meu mestre, Alecsandro de Souza, consultor do projeto Rumo Certo. Ele me deu uma apostila pra responder sobre a vida do comércio. E a minha apostila só saíam risos e pontos de interrogação, pois eu não sabia nada de custo fixo, custo variável. Eu não sabia nada, nada, nada”, se diverte. Ela conta que seu esposo Renato tinha dores de barriga quando chovia, pois sabia que precisaria do dinheiro daquela noite no dia seguinte e que não teria movimento pra isso. “O amanhã precisava do dinheiro do movimento de hoje. Foi então que começamos a trabalhar com planejamento e pé no chão. Sabemos os custos do Gambá e trabalhamos em cima disso agora. A vinda do Alecsandro foi uma renovação para o Gambá. Ele incentivou a gente, inclusive, a passar a fazer as entregas. Devo muito a ele”, exalta ela.

Barrosense sabe a importância do Gambá Lanches para a cidade. A empresa sempre esteve presente na vida cultural, esportiva e social de Barroso. Além das festas das quais sempre foi parceira, a lanchonete fundou e apoiava o time do Americano, na época do futsal do Clube Recreativo Barrosense, além da realizar um Carnaval inteiro, ganhando uma premiação como evento do ano de 1991. Sim: o Gambá fez o carnaval de Barroso naquele ano.

E quem é gincaneiro em Barroso sabe disso também. A empresa sempre esteve ligada às gincanas filantrópicas na cidade. “Participamos desde a primeira gincana que Barroso teve, com a Equipe Osanan. De lá para cá, estivemos presentes em todas as edições, de uma forma ou de outra”, destaca a empresária, figurinha carimbada nas competições da juventude.

Outros tantos eventos possuem a marca e a presença do Gambá: Festican, Fest’Arte, encontros de motociclistas, além dos extintos campeonatos de futevôlei, peteca, futebol e vôlei de areia na Praça Salvador da Silva, promovidos pelo próprio Gambá. Tudo isso movimentava o comércio, as lanchonetes, restaurantes e hotéis. “A gente sempre queria criar e incentivar coisas novas para a cidade”, ressalta.

O pessoal das antigas vai se lembrar de algo que fez o Gambá ficar muito marcado: uma iniciativa pra lá de criativa dos profissionais de comunicação Toninho Pinto e Galdino Silva. Eles tinham um grupo de pagode, junto com alguns amigos, e vinham fazer rodas de samba no Gambá. Foi quando pediram à lanchonete para instalarem um sistema de som. “A gente acabou providenciando e, com o tempo, o Toninho começou a fazer umas brincadeiras com recadinhos, torpedos e oferecimento de músicas. Isso serviu para unir muitos casais, como por exemplo os queridos Amaro e Vitória, que estão casados há 18 anos, graças aos recadinhos do Gambá”, empolga-se ela ao contar a história.

Já passaram pelo Gambá nomes como Paulinho Pedra Azul, que inclusive deixou dedicatória na parede do estabelecimento: “Tira-gosto do Gambá, melhor não há”. Além dele, Hugo & Tiago, Paulo Ricardo e tantos outros, todos eles sem segurança, sem cerimônias. Foram bem atendidos e elogiaram a lanchonete. O Gambá serviu artistas importantes no Parque de Exposições da cidade, como Chitãozinho & Xororó, Zé Geraldo, Moacir Franco, Detonautas, Almir Guineto, Sidney Magal, Perla, o grupo Bala, Bombom e Chocolate e tantos outros.

Tina faz as contas e diz que já passaram pela lanchonete cerca de 100 funcionários. Segundo ela, os proprietários nunca conseguiram separar o funcionário do amigo. Todos que saem do Gambá sempre voltam, ou para trabalhar ou para consumir. “Todos somos uma grande família. A gente trabalha junto, mas também faz festas, comemora datas especiais e procura nunca deixar ninguém desamparado. Sentimos muito carinho por eles e sabemos que eles por nós. Todos são muito amigos do Gambá”, festeja ela. Um detalhe que quase ninguém sabe: alguns dos que passaram pela empresa foram retirados pelos próprios empresários do mundo das drogas, passando por todas as situações junto com eles, da saída das drogas e das crises de abstinência à plena recuperação da pessoa. Um grande exemplo, difícil de ser seguido. Hoje, muitos deles estão empregados em empresas maiores e até mesmo tocando seus próprios negócios.

Mas é que o negócio do Gambá não é só vender lanche. O Gambá é uma empresa que adotou a prática da responsabilidade social muito antes disso virar moda por aí. A prova disso está nas várias ações que eles sempre mantiveram na cidade, seja com os amigos e as caridades nas épocas do Natal, seja nos eventos realizados na praça.

Sobre esse sucesso do Gambá, Tina faz questão de destacar: “Agradeço muito ao Gambá pois através dele a gente conhece muita, muita gente. Estamos recebendo no nosso Facebook depoimentos de muitas pessoas. A gente sempre viaja e se encontra com alguém que cobra: “Ei, cadê o meu Gambazão? Por que não trouxeram?”, diverte-se, sorrindo. Mas todo esse êxito tem seus sacrifícios. Manter a qualidade dos produtos, após todo esse tempo, não é fácil. A política da empresa é a de não mudar os ingredientes e não baixar a qualidade. O Gambá preza pelo primor. A empresária lembra que eles foram um dos primeiros estabelecimentos a pedir que houvesse vigilância sanitária em Barroso, para o bem-estar da população. Difícil de entender, simples de explicar: o Gambá é o Gambá.

Quando perguntada sobre algum momento em que houve a vontade de fechar o Gambá, Tina foi direta: “Sim, teve sim!”. Segundo ela, foi quando um de seus funcionários foi agredido violentamente, precisando ser internado no hospital e permanecendo afastado do trabalho por um ano. O motivo da agressão? O funcionário era novato, humilde e errou o pedido de um cliente, que o atacou covardemente. Por uma ignorância sem precedentes, a lanchonete quase baixou as portas.

Tina agradece ao Gambá, pois tudo o que conquistaram, inclusive os estudos das duas filhas, foi graças à lanchonete. O trabalho de uma vida inteira, de uma família inteira, está ali. O Gambá é um marco na cidade. Quando alguém chega a Barroso, a referência é sempre o Gambá. Todo mundo sabe onde fica a lanchonete. Alguém já imaginou Barroso sem o Gambá? Alguém já imaginou “a rua” sem o Gambá? A Tina e o Renato já... Eles chegaram a cogitar a possibilidade de fechar a lanchonete quando completassem 30 anos de atividade. Seria neste ano de 2013. Daí vem a pergunta: Alguém aceita o Gambá fechado? Só na Sexta-Feira da Paixão. O único dia que o Gambá não abre no ano inteiro!

A empresária lamenta que não fará uma grande festa de 30 anos da empresa, como prometeu a muita gente. Alguns problemas de saúde que envolvem seus funcionários e amigos, além da morte de um amigo querido e grande incentivador, o Pião da Pizzaria, que se inspirou no Gambá para abrir o seu próprio negócio, acabaram por desanimar os empresários. “Isso tem mexido com a gente e preferimos ficar mais quietos neste momento”, lamenta ela.

Em uma certa gincana, pelos idos de 2005, eu era um dos líderes da equipe Anarquia e, numa prova de teatro, me vesti de Tina do Gambá e, na minha fala, previ um momento de progresso de Barroso, que, segundo ela, é esse que vem acontecendo em 2013. De fato, Barroso está crescendo. Torço para que o Gambá continue crescendo também, assim como “previ” em 2005 e de igual forma desejo que seja pelos próximos anos.

Por falar em futuro, perguntei à empresária: O que você espera para os próximos 30 anos de Gambá? “Olha, Rhonan... Daqui a 30 anos, eu vou estar com 83 anos de idade. Eu quero estar lá no Gambá, contando a história do Gambá”. Tomara que muitos estejam lá para ouvir. Tomara que eu também esteja lá.

Parabéns, família Gambá Lanches! E obrigado por ser tudo isso pra Barroso! 
RhNeto

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