Neste
mês de abril de 2013, o famoso e badalado Gambá Lanches, em Barroso, comemora
30 anos... E a história do Gambá se confunde com a da cidade, com a da
juventude, dos eventos, dos artistas, dos baladeiros, dos boêmios, dos
apaixonados... O papo com Vicentina Fonseca, a Tina do Gambá, casada com o
proprietário da lanchonete, Renato Gambá, rendeu muita coisa bacana. É hora de
compartilhar com os leitores. Mas já adianto: muita coisa ficou para trás. Só
conversando com ela pra saber os detalhes.
E
a primeira pergunta é clássica: Como surgiu a ideia do Gambá? E me responde a
Tina: “As pessoas sempre acham que o Gambá era do meu sogro, o saudoso Sr.
Geraldo. Mas o Gambá sempre foi do Renato mesmo. E a ideia de criar o Gambá foi
do meu cunhado, Ronaldo. O Renato e o pai dele estavam desempregados e o Sr.
Geraldo veio junto com o Renato montar”, relembra ela, destacando que o Sr.
Geraldo foi um incentivador fundamental dos negócios por 14 anos, participando
de tudo que o casal queria fazer. “O Sr. Geraldo era muito carismático e
conquistou muito as pessoas. Todo mundo gostava dele”, disse a entrevistada,
comentando das intenções de fazer uma homenagem neste ano para o sogro.
Voltando
ao início da lanchonete, não havia dinheiro pra investir no Gambá. Foram
comprados um freezer, dois liquidificadores, um extrator de sucos e ainda foram
emprestados cinco engradados de cerveja, dois de refrigerante e uma estufa, do amigo
Nezito. “Mas a gente não acreditava muito no negócio, pois era uma novidade,
não tinha lanchonete na cidade. Servíamos hamburguer, misto, x-burguer e
x-salada, que era tudo o que a gente sabia fazer. Minha sogra fazia salgados de
botequim, aqueles tira-gostos, além das coxinhas”, conta.
E
Tina se lembrou da humildade da estrutura que o pequeno comércio barrosense possuía.
“Não tinha onde sentar. O balcão ficava na porta. Era apenas aquele cubículo
onde hoje ficam as quatro mesas, em frente ao banheiro. O Gilceu trouxe uns
eucaliptos e meu sogro colocou umas tábuas em cima. Fizemos os banquinhos e as
mesas com isso, além dos ‘gelos baianos’, os blocos que ficavam de fora do bar”,
destaca. Mas o Gambá cresceu muito rápido e, em seis meses, precisava de
ampliação. Então passaram a ocupar também a parte onde hoje ficam as mesas, e
que, na época, haviam mesas de ardósia, bastante rústicas, além de algumas
poucas mesas e cadeiras de metal.
A
lanchonete ia ganhando fama na cidade de Barroso. Os negócios prosperavam e, com
oito anos de funcionamento, o comércio pedia novos investimentos. Foi feita uma
ampliação sem que as pessoas percebessem. Em uma noite, quebraram a parede e,
quando as pessoas acordaram, de manhã, um novo Gambá estava em funcionamento,
todo em sucupira, com um balcão enorme, cheio de doces, chocolates... Um caixa
sofisticado, com mais produtos. Aos 14 anos de Gambá, um baque: o falecimento
do Sr. Geraldo. Na época, a lanchonete servia almoço, com comida típica mineira.
“Acabamos parando de servir almoço, pois ele nos incentivava muito”, lamenta a
empresária.
Um
ano depois, quando o Gambá fez 15 anos, a população se mobilizou e fez uma
festa para a lanchonete. Uma festa surpresa. O bolo era um gambá e a vela
também. “Fizeram até camisa pra gente. A população sempre retribuiu esse
carinho pra gente. Nós nunca trabalhamos esperando receber nada em troca. O
retorno vem quando a gente percebe que as pessoas estão felizes. Isso é
importante”, destaca ela.
Tempos
depois, a lanchonete, que continuava com as atividades, sofreu uma pressão muito
grande para criar algo novo. “A gente sempre trazia novidades para a lanchonete
e as pessoas cobravam da gente”, relata Tina. Então passaram a servir pizzas em
maior quantidade e variedade. Com isso, a clientela aumentava e era preciso mais
espaço. Foi então quando construíram o segundo andar do empreendimento, perto
do ano de 2000.
Mas
o negócio que cresce demanda mais atenção e cuidado. E Tina reconhece isso: “Não
tínhamos muito controle da vida pessoal e dos negócios. Misturávamos muito as
coisas. Aí em 2006 surgiu o meu mestre, Alecsandro de Souza, consultor do
projeto Rumo Certo. Ele me deu uma apostila pra responder sobre a vida do
comércio. E a minha apostila só saíam risos e pontos de interrogação, pois eu
não sabia nada de custo fixo, custo variável. Eu não sabia nada, nada, nada”,
se diverte. Ela conta que seu esposo Renato tinha dores de barriga quando
chovia, pois sabia que precisaria do dinheiro daquela noite no dia seguinte e
que não teria movimento pra isso. “O amanhã precisava do dinheiro do movimento
de hoje. Foi então que começamos a trabalhar com planejamento e pé no chão.
Sabemos os custos do Gambá e trabalhamos em cima disso agora. A vinda do
Alecsandro foi uma renovação para o Gambá. Ele incentivou a gente, inclusive, a
passar a fazer as entregas. Devo muito a ele”, exalta ela.
Barrosense
sabe a importância do Gambá Lanches para a cidade. A empresa sempre esteve
presente na vida cultural, esportiva e social de Barroso. Além das festas das
quais sempre foi parceira, a lanchonete fundou e apoiava o time do Americano,
na época do futsal do Clube Recreativo Barrosense, além da realizar um Carnaval
inteiro, ganhando uma premiação como evento do ano de 1991. Sim: o Gambá fez o
carnaval de Barroso naquele ano.
E
quem é gincaneiro em Barroso sabe disso também. A empresa sempre esteve ligada
às gincanas filantrópicas na cidade. “Participamos desde a primeira gincana que
Barroso teve, com a Equipe Osanan. De lá para cá, estivemos presentes em todas
as edições, de uma forma ou de outra”, destaca a empresária, figurinha
carimbada nas competições da juventude.
Outros
tantos eventos possuem a marca e a presença do Gambá: Festican, Fest’Arte, encontros
de motociclistas, além dos extintos campeonatos de futevôlei, peteca, futebol e
vôlei de areia na Praça Salvador da Silva, promovidos pelo próprio Gambá. Tudo
isso movimentava o comércio, as lanchonetes, restaurantes e hotéis. “A gente
sempre queria criar e incentivar coisas novas para a cidade”, ressalta.
O
pessoal das antigas vai se lembrar de algo que fez o Gambá ficar muito marcado:
uma iniciativa pra lá de criativa dos profissionais de comunicação Toninho
Pinto e Galdino Silva. Eles tinham um grupo de pagode, junto com alguns amigos,
e vinham fazer rodas de samba no Gambá. Foi quando pediram à lanchonete para
instalarem um sistema de som. “A gente acabou providenciando e, com o tempo, o
Toninho começou a fazer umas brincadeiras com recadinhos, torpedos e
oferecimento de músicas. Isso serviu para unir muitos casais, como por exemplo os
queridos Amaro e Vitória, que estão casados há 18 anos, graças aos recadinhos
do Gambá”, empolga-se ela ao contar a história.
Já
passaram pelo Gambá nomes como Paulinho Pedra Azul, que inclusive deixou
dedicatória na parede do estabelecimento: “Tira-gosto do Gambá, melhor não há”.
Além dele, Hugo & Tiago, Paulo Ricardo e tantos outros, todos eles sem
segurança, sem cerimônias. Foram bem atendidos e elogiaram a lanchonete. O
Gambá serviu artistas importantes no Parque de Exposições da cidade, como
Chitãozinho & Xororó, Zé Geraldo, Moacir Franco, Detonautas, Almir Guineto,
Sidney Magal, Perla, o grupo Bala, Bombom e Chocolate e tantos outros.
Tina
faz as contas e diz que já passaram pela lanchonete cerca de 100 funcionários.
Segundo ela, os proprietários nunca conseguiram separar o funcionário do amigo.
Todos que saem do Gambá sempre voltam, ou para trabalhar ou para consumir. “Todos
somos uma grande família. A gente trabalha junto, mas também faz festas,
comemora datas especiais e procura nunca deixar ninguém desamparado. Sentimos
muito carinho por eles e sabemos que eles por nós. Todos são muito amigos do
Gambá”, festeja ela. Um detalhe que quase ninguém sabe: alguns dos que passaram
pela empresa foram retirados pelos próprios empresários do mundo das drogas,
passando por todas as situações junto com eles, da saída das drogas e das
crises de abstinência à plena recuperação da pessoa. Um grande exemplo, difícil
de ser seguido. Hoje, muitos deles estão empregados em empresas maiores e até
mesmo tocando seus próprios negócios.
Mas
é que o negócio do Gambá não é só vender lanche. O Gambá é uma empresa que
adotou a prática da responsabilidade social muito antes disso virar moda por
aí. A prova disso está nas várias ações que eles sempre mantiveram na cidade,
seja com os amigos e as caridades nas épocas do Natal, seja nos eventos
realizados na praça.
Sobre
esse sucesso do Gambá, Tina faz questão de destacar: “Agradeço muito ao Gambá
pois através dele a gente conhece muita, muita gente. Estamos recebendo no
nosso Facebook depoimentos de muitas pessoas. A gente sempre viaja e se
encontra com alguém que cobra: “Ei, cadê o meu Gambazão? Por que não
trouxeram?”, diverte-se, sorrindo. Mas todo esse êxito tem seus sacrifícios. Manter
a qualidade dos produtos, após todo esse tempo, não é fácil. A política da
empresa é a de não mudar os ingredientes e não baixar a qualidade. O Gambá preza
pelo primor. A empresária lembra que eles foram um dos primeiros
estabelecimentos a pedir que houvesse vigilância sanitária em Barroso, para o
bem-estar da população. Difícil de entender, simples de explicar: o Gambá é o
Gambá.
Quando
perguntada sobre algum momento em que houve a vontade de fechar o Gambá, Tina
foi direta: “Sim, teve sim!”. Segundo ela, foi quando um de seus funcionários
foi agredido violentamente, precisando ser internado no hospital e permanecendo
afastado do trabalho por um ano. O motivo da agressão? O funcionário era
novato, humilde e errou o pedido de um cliente, que o atacou covardemente. Por
uma ignorância sem precedentes, a lanchonete quase baixou as portas.
Tina
agradece ao Gambá, pois tudo o que conquistaram, inclusive os estudos das duas
filhas, foi graças à lanchonete. O trabalho de uma vida inteira, de uma família
inteira, está ali. O Gambá é um marco na cidade. Quando alguém chega a Barroso,
a referência é sempre o Gambá. Todo mundo sabe onde fica a lanchonete. Alguém
já imaginou Barroso sem o Gambá? Alguém já imaginou “a rua” sem o Gambá? A Tina
e o Renato já... Eles chegaram a cogitar a possibilidade de fechar a lanchonete
quando completassem 30 anos de atividade. Seria neste ano de 2013. Daí vem a
pergunta: Alguém aceita o Gambá fechado? Só na Sexta-Feira da Paixão. O único
dia que o Gambá não abre no ano inteiro!
A
empresária lamenta que não fará uma grande festa de 30 anos da empresa, como
prometeu a muita gente. Alguns problemas de saúde que envolvem seus
funcionários e amigos, além da morte de um amigo querido e grande incentivador,
o Pião da Pizzaria, que se inspirou no Gambá para abrir o seu próprio negócio, acabaram
por desanimar os empresários. “Isso tem mexido com a gente e preferimos ficar
mais quietos neste momento”, lamenta ela.
Em
uma certa gincana, pelos idos de 2005, eu era um dos líderes da equipe Anarquia
e, numa prova de teatro, me vesti de Tina do Gambá e, na minha fala, previ um
momento de progresso de Barroso, que, segundo ela, é esse que vem acontecendo
em 2013. De fato, Barroso está crescendo. Torço para que o Gambá continue
crescendo também, assim como “previ” em 2005 e de igual forma desejo que seja
pelos próximos anos.
Por
falar em futuro, perguntei à empresária: O que você espera para os próximos 30
anos de Gambá? “Olha, Rhonan... Daqui a 30 anos, eu vou estar com 83 anos de
idade. Eu quero estar lá no Gambá, contando a história do Gambá”. Tomara que
muitos estejam lá para ouvir. Tomara que eu também esteja lá.
Parabéns,
família Gambá Lanches! E obrigado por ser tudo isso pra Barroso!
RhNeto
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