Cometi o atrevimento de lhe escrever, Suassuna. E bota atrevimento
nisso. Quem sou eu pra escrever algo a você, mestre paraíba? Fiquei pensando o
tempo todo no que escrever para não desapontá-lo. Difícil escrever para um ícone.
Mas o coração me deu esse empurrãozinho... “Não sei, só sei que foi assim”.
Você, que é filho de berço e palácio, cresceu no povo, no plano raso do chinelo na poeira. Senhor da Literatura, rei da cultura nacional. Gostava
das palavras, gostava das estórias, gostava das piadas. E eu gostava tanto de
você, sem nem mesmo ter uma obra suassuniana em minha posse. Preciso rever
isso. Vou anotar para não me esquecer: “Comprar um livro do Ariano Suassuna”.
Assim, vou me deleitar nos seus textos repletos de adjetivos, ricos,
riquíssimos.
Você, que lutava pela identidade cultural brasileira, parte
no momento do beijinho no ombro, do lepo lepo, dos “moleque bolado ostentado” e
dos tchê-tchê-tcherês. Que isso, Suassuna? Vai largar a gente aqui com essa
bomba nas mãos? Não há santo nem Auto da Compadecida que dê jeito nessa baderna
cultural. Pergunto a você, que certa feita definiu: isso é mau gosto ou gosto
médio?
Você, que revelou que o povo brasileiro o encarregou de uma
missão – a de defender a cultura do Brasil –, mentiroso se condenava: “Mas o
povo brasileiro, coitado, nem sabe disso”, comentou na ocasião. Em geral, o
povo brasileiro, mestre paraíba, não te compreendia. Em geral, o povo
brasileiro só gosta de modinha. Em geral, o povo brasileiro “não sabe de nada,
inocente”.
Você, que tinha simpatia por mentirosos e doidos, acolha com
carinho este texto que fiz por ocasião de sua partida. Somos do ramo, identificamos
mentirosos logo. Tá aí uma homenagem desse jornalista charlatão, que os
familiares chamam de doido... Mas ela é do fundo do coração. Descanse em paz, mais
nobre guerreiro. E fica sossegado, Suassuna! Não vou trocar o seu “oxente” pelo
“ok” de ninguém.
RhNeto
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